quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Cardo leiteiro

Ou cardo do coalho, ou cardo manso ou ainda alcachofra na região centro de Portugal. O Cynara cardunculus é um dos cardos com maior potencial ornamental e paisagístico. De muito fácil germinação é uma planta perene pouco exigente quer de solos quer de água. Além das folhas, que podem atingir um tamanho considerável e cuja cor verde cinza  contrasta bem junto de verdes mais escuros de outros arbustos, oferece generosas e intensas florações entre Maio e Julho que são um eficaz chamariz de insectos e borboletas.

Mas o seu potencial não é apenas ornamental/paisagístico. Em rigor o interesse do Homem por esta planta é muito anterior remontando, pelo menos, ao período romano. Sendo aparentada com a conhecida alcachofra comestível, Cynara scolymus, utilizada na cozinha de outros países e que hoje começa a ser vulgar encontrarmos disponível nos nossos supermercados, esta nossa espécie também fazia parte da alimentação popular sendo utilizados os caules e as folhas quando tenros.

Como indicam os seus nomes vulgares era no passado amplamente utilizada no fabrico de queijos, aproveitando um dos seus elementos químicos - a cardozina, principio activo coagulante, presente nos estames das suas flores. Embora a "industrialização" dos processos de fabrico tenha afastado o coalho de cardo da fabricação de queijo, o sabor característico que o seu uso dava tem levado, nos últimos anos, ao surgimento de iniciativas que visam a sua reintrodução de forma inovadora no fabrico artesanal de produtos de elevada qualidade. Uma dessas iniciativa é o projecto CARDOP, desenvolvido por uma equipa liderada pelo Prof. Paulo Barracosa da ESAV  - Escola Superior Agrária de Viseu, que ao longo dos últimos dois anos e com resultados visíveis têm trabalhado no estudo e e valorização do cardo na produção de queijo DOP Serra da Estrela.

Popularmente também lhe são reconhecidas diversas propriedade medicinais, nomeadamente para o tratamento de problemas hepáticos, e que hoje são alvo da crescente atenção (e valorização!) da industria farmacêutica.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Uma tarefa espinhosa!

Foto obtida na commons wikimedia

Mas afinal de que espécies autóctones falamos quando dizemos que muitas delas têm potencial ornamental para saírem dos campos e saltarem para os nossos espaços verdes?

Esta não é uma resposta difícil - existem mais de 4000 espécies autóctones na nossa flora!! e já começam a haver muitos que se dedicam a explorar o lado ornamental das nossas plantas como é o caso do Arquitecto paisagista Rafael Carvalho que há quase dois anos nos dá boas sugestões no seu blogue Jardim Autóctone, mas no fim do mês de Outubro, época de dias curtos em que já só nos lembramos vagamente de algumas plantas que vimos na " longínqua" Primavera, pode ser uma tarefa mais espinhosa.  Porém é nesta altura que os jardins que queremos ter na Primavera devem ser planeados.

O Outono é a melhor época para colocar árvores e arbustos na terra, mas também uma boa época para semear e fazer germinar muitas das sementes de arbustos e plantas plurianuais que irão florescer a partir de Março do próximo ano - um principio geral de jardinagem independentemente das espécies em causa serem autóctones ou não.

Esta e as próximas entradas irão colocar a atenção em algumas plantas que se semeadas agora poderão ser transplantadas para os seus locais definitivos na Primavera.

Entre essas espécies estão as que nos habituámos a ouvir chamar de "cardos". Um conjunto bastante heterogéneo de plantas com nomes populares tão diversos como cardo mariano, cardo marítimo ou alcachofra, para citar apenas alguns - mas que na realidade pertencem a diferentes géneros botânicos.

 Em rigor, o nome "cardo" não é uma classificação cientifica mas apenas uma forma popular de agregar no mesmo saco "espécies de "plantas tramadas com espinhos". Como qualquer outra generalização é útil, mas injusta porque nos impede de realmente ver o seu interesse ornamental e de quão belas podem ser.

Das espécies etiquetadas como  "cardos" há um género que possui inegável interesse: O género Cynara. Um interesse tão óbvio que não passou despercebido noutros países como França e Inglaterra. A fotografia acima é um exemplo disso e de que para outros povos os nossos cardos até podem ficar bem num jardim!!

Mas a verdade tem que ser dita. A sua beleza é apenas a ponta icebergue! No caso dos Cynara o seu interesse vai muito para além do seu aspecto estético e é de tal forma vasto que seriam necessários vários artigos se lhe quiséssemos fazer justiça. Daí que sejamos forçados a recorrer à técnica do suspense e a fazer uma pausa.

A nossa próxima entrada será sobre a espécie Cynara cardunculus L., utilizada num jardim inglês e cuja foto colocámos acima.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

A importância da vegetação autóctone

Quem resiste aos encantos cromáticos dos bosques e florestas, dos matos mediterrânicos, dos campos em pousio e das coloridas bermas das nossas estradas, de norte a sul de Portugal, sobretudo desde finais do inverno até aos princípios do verão?

À velocidade a que passamos podemos até reparar nas manchas de cor, mas é quase certo que não pensamos na grande diversidade floristica e faunistica que compõem aquelas unidades. 
É nestas zonas que ainda encontramos ou que se vai instalando um tipo de vegetação a que chamamos autóctone, isto é, natural, espontânea ou originária desse mesmo território.

No entanto, se depois da grande mancha que define o ecossistema atentarmos um pouco mais de perto até somos capazes de encontrar entre essa 'multidão', num ou outro recanto mais protegido da ‘impiedosa intervenção humana’, algumas espécies capazes de competir com as mais populares exóticas preferidas na maioria dos jardins.

É esse potencial ornamental de algumas espécies que é interessante valorizar fazendo com que “saltem para os nossos jardins” ou que se propaguem pelos nossos campos, enriquecendo-os não só em termos estéticos mas também em termos de biodiversidade.

E como vamos saber quais as melhores plantas para usar no nosso jardim?
Nada melhor que começar por observar os 'espaços naturais' envolventes e ver o que mais se assemelha às condições de solo, humidade e luminosidade do nosso espaço.

Se privilegiarmos as plantas que provavelmente e naturalmente existiriam no local do nosso jardim, sem dúvida obteremos uma grande economia na sua manutenção, quer por melhor resistir a períodos de seca prolongada quer pela maior resistência às pragas e doenças, haverá um enriquecimento na fauna  que passará a visitar o jardim,  e uma dinâmica formal muito maior ao longo do decorrer das estações do ano.
Para não falar do valor que muitas dessas plantas têm pelas suas propriedades medicinais, aromáticas ou até mesmo condimentares.

Esta reaproximação com a vegetação autóctone já aconteceu com algumas espécies mais conhecidas como o folhado, Viburnum tinus, como as bocas-de-lobo (Antirrhinum sp), como o alecrim (Rosmarinus officinalis), como o rosmaninho (Lavandula stoechas) e muitas outras aromáticas em voga, mas consideramos que MUITAS MAIS têm potencial para ornamentar os nossos jardins.

Assim como as bermas das nossas estradas, se forem cuidadas e mantidas em vez de trucidadas por ex. pelas mondas químicas, estaremos a fazer a preservação natural de todo um banco de sementes riquíssimo e a potenciar as melhores condições para a vivência em harmonia de toda uma fauna que aqui se alimenta e abriga, desde pequenos roedores a uma infinidade de insetos e sobretudo às nossas indispensáveis e laboriosas abelhas.
É sempre bom lembrar outros países, considerados mais desenvolvidos, como no Reino Unido, que depois de procederem à “limpeza” e quase eliminação da vegetação 'dita daninha’ nas bermas das estradas, andam agora a proceder artificialmente à reconstituição da antiga diversidade.

Porque “mais vale prevenir que remediar”, cabe a todos nós e sobretudo a cada um, aprender com os erros dos outros e atalhar, pois basta para isso não estragar os nossos recursos naturais e o que temos de melhor e conferir-lhes o merecido valor.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O Projecto

Nos últimos anos o interesse pela flora autóctone tem crescido junto de um número cada vez maior de interessados e apaixonados pelo seu inegável valor ornamental e paisagistico.

Sementes de Portugal é, em grande parte, fruto da energia e dedicação de bloguers que, como o dias com árvores, o botanico aprendiz na terra dos espantos, florestar.net, entre tantos outros, dedicaram e dedicam uma boa parte do seu tempo a partilhar generosamente tudo o que sabem e vão descobrindo sobre a nossa flora autóctone.

Paralelamente, cada vez mais profissionais da arquitectura paisagista e entidades estão conscientes das potencialidades de muitas das nossas plantas. Em projectos de espaços verdes, as plantas autóctones, se correctamente utilizadas, contibuem para a criação de jardins menos exigentes de recursos (nomeadamente água), bem integrados no meio e que, simultanemente, sao ecossistemas de um sem número  de pequenos seres vivos que neles habitam.

Porém a sua utilização é ainda diminuta. Comparativamente com espécies de outras latitudes, a flora autóctone é ainda pouco utilizada nos nossos jardins publicos e privados. E não é por as pessoas não gostarem da nossa flora! Na maioria das vezes é simplesmente por desconhecimento!

Sementes de Portugal pretende precisamente contribuir para um maior conhecimento e utilização da nossa flora.

Na esteira de tantos divulgadores que nos ensinaram a gostar de flora autóctone, é nosso desafio prosseguir e ajudar na divulgação das espécies que, com maior potencial ornamental e paisagistico, podem ajudar  na valorização dos nossos recursos endógenos.

Por outro lado, propomo-nos disponibilizar um catálogo de sementes que, recolhidas por uma rede de colectores conhecedores da nossa flora, em locais seleccionados e com garantias de germinação, permitirão  a muitos interessados a inclusão de espécies da sua preferencia nos seu espaços verdes.


Cristina Reboleira&João Gomes