terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Uma mensagem de esperança! Bem-vindo 2014!

2013 foi o ano em que lançámos as Sementes de Portugal ao mundo.
E porquê? Porque acreditamos que é inevitável uma nova abordagem do paradigma do relacionamento humano com os espaços verdes e com a natureza de um modo geral.

Já em 2004 (quase há 10 anos), o próprio Arq. Pais. Ribeiro Telles, na sua intervenção no Seminário "Espaços Verdes - Património a Recuperar" em Famalicão, sob o tema "A estrutura ecológica da Cidade-Região" lançava este desafio de "rever a problemática dos espaços verdes"... em que a moderna "jardinagem deva inspirar-se nos agro sistemas tradicionais"... "trazendo o campo para a cidade e a cidade para o campo".

Em noite de festa, deixamos este seu vídeo como uma mensagem de esperança. Que as suas ideias vinguem e cresçam pois as nossas 'Sementes de Portugal' estão aqui procurando ir ao seu encontro.

Em 2014 semeiem muito, façam crescer os vossos sonhos para que seja um ano de realizações positivas, sustentáveis e benéficas para o bem comum. Bem Hajam!

Saúde e um Próspero 2014

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Cardo Mariano


Aproveitando o facto de ainda estarmos na quadra do Natal apresentamos-vos hoje o cardo mariano ou, como também é conhecido, cardo-de-Santa-Maria. A razão de ser desta ligação à mãe de Jesus prende-se com as manchas brancas das suas folhas já adultas - de acordo com a lenda, "quando Maria fugia com o seu filho Jesus nos braços passou por uma planta destas. Na sua fuga, o leite corria-lhe para fora dos peitos de tal forma que atingiu uma folhas deste cardo, manchando-as de branco, perpetuando assim o seu nome" (1)

Lendas à parte, o facto é que o Silybum marianum é uma planta abençoada para diversos usos. O que mais gostamos de relevar é, claro, o ornamental. A cor e a estrutura das suas flores não passam despercebidas e podem constituir um bom apontamento seja no jardim ou no canto de uma horta. As suas sementes germinam com facilidade e as plantûlas podem ser transferidas para os locais definitivos no início da primavera, tendo em atenção que é uma planta que preferes solos frescos, boa exposição solar e que é vivaz/plurianual, desaparecendo no Verão para renascer com as primeiras chuvas de Outubro.

Quanto aos restantes usos que tradicionalmente lhe são atribuídos destacam-se o alimentar - folhas e caules quando jovens podem ser aproveitadas em saladas e sopas; e o medicinal. Embora neste particular sejam de referir as dúvidas que pairam sobre a sua eficácia, conforme refere Paulo Araújo no Dias com árvores. De qualquer das formas é uma planta cujo extracto, produzido a partir das suas sementes, se encontra na composição de diversos medicamentos disponíveis em ervanárias para problemas relacionados com o fígado e a bexiga.

(1) Salgueiro,  José, Ervas, usos e saberes , Edições Colibri

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

O Natal com as autóctones

Hoje evocamos as plantas emblemáticas da presente época até porque, por sinal, são autóctones. São elas “os azevinhos”. Sobejamente conhecidas, as plantas apresentadas abaixo fazem parte do nosso imaginário e sobretudo das decorações tradicionais natalícias.
Azevinho (Ilex aquifolium)                      Gilbardeira (Ruscus aculeatus)

Quando falamos d’os azevinhos’, queremos apenas realçar que há o verdadeiro e o falso.

O verdadeiro azevinho, Ilex aquifolium, que deve o seu nome genérico à semelhança formal das suas folhas com as folhas da azinheira (Quercus ilex), nesta altura ornamenta a sua bela folhagem verde escura e brilhante com profusos agrupamentos de drupas vermelhas.
Tradicionalmente, o seu uso remonta às festividades romanas em honra do deus Saturno, “As Saturninas”, que se realizavam por estas alturas do solstício de Inverno. Já na era cristã apareceram outras lendas que dizem ter o azevinho dado proteção à Sagrada Família quando esta era perseguida pelos soldados do Rei Herodes, passando assim este arbusto a ser o símbolo do Natal, por ter protegido Jesus.
Muito usado na época natalícia para as decorações, é vítima de cortes arrasadores e abusivos, sem que critério, pelo que corre o risco de extinção enquanto planta espontânea. Está totalmente proibida de apanhar em Portugal pelo Decreto-Lei nº 423/89 de 4 de Dezembro que "proibe, em todo o território do continente o arranque, o corte total ou parcial, o transporte e a venda do azevinho espontâneo.

O falso azevinho, Ruscus aculeatus, é popularmente conhecido por gilbardeira entre muitos outros nomes como azevinho-espinhoso, azevinho-pequeno ou menor, erva-de-vasculho, gibaldeira, gilbardeira, murta-espinhosa, pica-rato, etc…, nada tem a ver com o verdadeiro a não ser a semelhança das suas bagas vermelhas e a igualmente grande procura dos seus raminhos para a decoração festiva.
Na sequência da diminuição do azevinho, as pessoas começaram a apanhar abusivamente a gilbardeira e agora ambas estão proibidas de ser apanhanhadas assim como também o teixo (Taxus baccata - apesar deste ter outra razão para a devastação: o pastoreio).

Mais recentemente e como resposta à "escassez" destas espécies, vê-se frequentemente à venda a folhagem de medronheiro, apanhadas de igual modo sem critério, o que poderá colocar em risco a curto ou médio prazo também esta espécie.

Pelo que, como proposta mais razoável propomos sem dúvida que cultivemos os nossos próprios azevinhos, num vaso ou no jardim, localizando-o 'naquele local' mais fresco. Obtemos assim a folhagem que precisamos para as decorações natalícias e valorizamos a planta, na medida em que o azevinho suporta bem a poda, rebentando lenta mas abundantemente. 
Sendo nativa em Portugal, o azevinho é já muito usado como ornamental e para formar sebes. Tem preferência pela metade norte do país mas tem também grande capacidade de adaptação, além de contribuir para a melhoria e preservação do solo. (1)


“If you love a flower, don´t pick it up.
Because if you pick it up it dies and it ceases to be what you love.
So if you love a flower, let it be.
Love is not about possession.
Love is about appreciation.” 
OSHO

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Paz, Amor e Murta

Se evidências faltassem de que a historia da Humanidade não é um continuo avolumar de conhecimento adquirido pelas gerações anteriores, do qual nada se perde e ao qual tudo se acrescenta, o generalizado desconhecimento que temos das plantas que nos rodeiam bastaria para começarmos a desconfiar das linhas pelas quais se tem feito o "inexorável" progresso humano.

E no meio da imensidão de plantas que hoje se encontram resumidas a "ervas" indiferenciadas, a murta é, possivelmente,  uma das que mais incompreensivelmente esquecemos. Ao ponto de hoje ignorarmos quase por completo a extensa e rica relação que com ela os nossos antepassados estabeleceram. 

Considerada pelos gregos e romanos como símbolo da Paz e do Amor, a murta era a planta consagrada a Afrodite e a Vénus, divindades nas mitologias grega e romana, respectivamente. Ainda hoje os ramos de murta fazem parte dos bouquets de casamento  de muitas noivas um pouco por toda a Europa, e não é por acaso que  o de Kate Middleton também tinha uns raminhos de uma murta plantada pela rainha Vitoria em 1845. Mas a simbologia desta planta é de tal forma rica e diversa para tantos povos do Mediterrâneo que o melhor mesmo é fazermos uma pequena pesquisa no google e deixarmo-nos surpreender pela quantidade de tradições que a ela estão associadas.

Além da simbologia, a murta é uma planta que exala um agradável  aroma a laranja e cujas características lhe têm conferido múltiplas utilizações, desde medicinal, no tratamento de doenças das vias respiratórias e urinária até ao uso alimentar e condimentar - flores, bagas e folhas, verdes ou secas são facilmente incluídas na confecção de diversos pratos e grelhados. Em diversas regiões de Portugal as suas bagas são ainda usadas na fabricação de licores e noutros países é cultivada para extracção dos seus óleos essenciais utilizados quer pela industrias de perfumaria e alimentar na preparação de molhos e aromatizantes.

Às utilizações acima, e que já não são poucas, nós acrescentamos ainda mais duas: a ornamental e a ecológica. Num jardim  é um  arbusto que pode ser utilizado em sebes ou isolado, que não exige cuidados de maior (prefere solos pouco ou nada calcários, mas também não excessivamente ácidos, bem drenados e sem exposição excessiva ao sol ), suporta bem as podas e as suas bagas são apreciadas por pequenas aves que lhe agradecem o alimento numa altura em que ele começa a escassear - o fim do Outono; Início do Inverno. De referir também que é uma planta que adapta perfeitamente à vida num vaso.

As nossas sementes de Myrtus communis,  colhidas recentemente em murtais do centro de Portugal, são uma boa opção para todos aqueles que pretendem começar por uma aposta segura em matéria de flora autóctone. Com uma temperatura  a rondar os 16º e luz q.b. pode ser semeada em qualquer altura e a sua germinação é praticamente garantida!

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Funcho-marítimo

Funcho-marítimo florido

É a única espécie do género Crythmum e o seu epíteto específico maritimum indica que vive exclusivamente no litoral.
Tal como na maioria das Apiáceas, ressalvando sempre as notáveis excepções como por ex. a conhecida cicuta, toda a planta é comestível, desde as suas folhas carnudas e aromáticas, aos caules e às próprias sementes, estando recentemente a ser descoberta pelas novas gerações de chefes de cozinha.
Cruas ou cozinhadas as folhas sabem levemente a funcho, talvez um pouco mais amargo e são ricas em vitamina C. 
Também do funcho-marítimo é extraído um óleo essencial que é depois usado como digestivo ou na  indústria da perfumaria.

Sementes do funcho-marítimo

É uma planta vivaz, renovando-se todos os anos sob a forma de um pequeno arbusto até 50cm de altura, de cor verde azulada e dando-se preferencialmente nas falésias rochosas do litoral. Para além de todo o nosso litoral, pode encontrar-se também no Mediterrâneo, Ilhas Canárias e costa sul e oeste da Bretanha e Irlanda, norte de África e Mar Negro.
Ao contrário da Canafrecha (Ferula communis) ou das tápsias não tem caules esculturais nem sequer exuberantes e douradas umbelas floridas. Mas em contrapartida recobre-se completamente de flores branco-amareladas, reunidas em umbelas agarradas ao corpo da flor, por volta de Junho a Agosto. 

Tolera muito bem a exposição maritima, e dá-se bem em solos pobres mas bem drenados, como os arenosos - só não gosta de sombra.

É por tudo isto fortemente recomendável para Jardins do Litoral sujeitos a condições adversas como os constantes ventos e maresias.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Sementeiras de Outono com a Sigmetum


 Antes que o Outono acabe, não resistimos a deitar algumas sementes à terra e germinar algumas sementes das espécies que vos temos vindo a mostrar.
Aproveitámos a época de sementeiras da Sigmetum - uma empresa portuguesa  pioneira na experimentação/produção de flora autóctone, que há já alguns anos trabalha em projectos de paisagismo e requalificação ambiental - e  estivemos na passada  sexta feira no viveiro da Tapada da Ajuda em Lisboa onde, com a ajuda da sua equipa, preparámos quatro tabuleiros de germinação.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Dedaleiras

Digitalis purpurea subsp purpurea

Até ao momento publicámos neste blogue postagens sobre duas "famílias de plantas" que consideramos terem um claro interesse ornamental e ecológico para os nossos jardins. Estas famílias - "cardos" e apiáceas (de referir uma vez mais que os cardos não são uma verdadeira família em termos botânicos, mas uma agregação popular) estão longe de estar esgotadas e futuramente voltaremos a outras espécies em que apostamos de olhos fechados (ou quase fechados porque não resistimos a vê-las!).

Porém, como há muitas mais espécies e famílias a quem devemos atenção, começaremos hoje a diversificar o nosso olhar introduzindo duas novas famílias: as Plantaginaceae e as Scrophulariaceae. Colocando as designações e questões botânicas de lado, resumimos apenas o essencial:  são duas famílias com diversos géneros de espécies que todos nós  na realidade já vimos algumas vezes e às quais não ficámos de certeza indiferentes tais são as suas cores e formas.

Uma das mais vulgares e conhecidas é a Dedaleira, cujo nome cientifico Digitalis purpurea  subsp purpurea, faz jus à forma de dedal das suas flores. Mas não é o único nome vulgar pelo qual é conhecida - em algumas regiões de Portugal chamam-lhe "sininhos" e provavelmente terá outros nomes tão curiosos quanto a imaginação dos que a observaram e admiraram ao ponto de terem de  lhes dar um nome. Em Inglaterra por exemplo as plantas do género Digitalis são apelidadas, com algum sentido de humor, claro! de Foxgloves (que traduzindo significa simplesmente "luvas de raposa"!)

Das cerca de 20 espécies de Digitalis que existem nas regiões temperadas da Europa/ Asia e Norte de Africa, calharam a Portugal três, sendo a Digitalis purpurea de distribuição generalizada no nosso território (* ver nota).

É claro que nos nossos garden centers começa já a ser possível encontrar alguma Dedaleiras, vistosas e de diferentes cores, normalmente variedades e cultivares aprimoradas noutros países onde gerações de jardineiros apuraram novas variações. Mas não há necessidade de aperfeiçoar em laboratório o que a nossa Natureza já desenvolveu tão bem e que, no nosso caso, acrescentam a garantia de estarem perfeitamente adaptadas às características e rigores do nosso solo e clima.

Com preferência por solos frescos e pouco expostos  ao sol é uma planta bianual em que as hastes carregadas de "dedais" emergem no segundo ano para satisfação de abelhas e outros e outros insectos que em troca do néctar e do pólen se encarregam da sua polinização.

Extremamente fácil de semear, não requer cuidados especiais e pode facilmente ser semeada com sucesso. Como não necessita solos profundos é uma planta que se desenvolve perfeitamente em vaso podendo embelezar com sucesso qualquer varanda.

De notar que é uma planta cujas partes  - folhas, caule raiz e sementes são tóxicas, possuindo um composto químico que hoje é amplamente utilizado pela Industria farmacêutica. A este propósito e fazendo fé em Jekka McVicar (1), foi no séc XVIII que um médico cientista inglês - William Withering - descobriu pela primeira vez a utilidade desta planta no tratamento de doenças cardíacas. Nada aliás que o "povo" não soubesse já pois a sua utilização em doses certas e acompanhadas por alguém  experiente faz parte da nossa sabedoria popular.

Por fim e porque a foto acima apenas permite um vislumbre da incrível beleza das dedaleiras, deixamos o link para o flora on onde muitas e excelentes fotografias nos mostram todo o esplendor que esta planta pode ter.

* Na edição inicial deste artigo escreveu-se, erradamente, que a Digitalis purpurea subsp. purpurea era endémica de Portugal. Com efeito ocorre de forma forma generalizada quer em Portugal quer em outros países da bacia do mediterrânio. A subsp. que efectivamente é endémica de Portugal, e de distribuição muito mais restrita, é a Digitalis purpurea subsp. amandina, conforme  se pode confirmar aqui na flora on. Pelo erro, as nossas desculpas.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

As Tápsias

Ainda na família das Apiáceas/Umbelíferas, existem várias Tápsias que podemos encontrar em Portugal, mas queremos sublinhar duas pela sua dimensão e pela floração mais exuberante. São elas a Thapsia villosa ou Turbit-da-terra e a Thapsia transtagana.

Turbit-da-terra ou tápsia (Thapsia villosa)

O turbit-da-terra pode ser encontrado por todo o país em clareiras de bosques, taludes e à beira dos caminhos. Já a Thapsia transtagana, está referenciada na metade sul/interior de Potugal e ambas distribuem-se pela parte mais a sul da Peninsula Ibérica, sul de França e NO de África, ou seja, em volta do Mediterrâneo.

Muito semelhantes com a anterior Canafrecha (Ferula communis), as Thapsia são de menores dimensões mas de encanto semelhante. 
O turbit-da-terra, por exemplo, tem a umbela menor mas mais densa e a sua folhagem deixa de ser plumosa para ser rendada, fazendo lembrar as frondes de um feto.

São plantas herbáceas e vivazes pelo que, mesmo perdendo os seus caules florais, as gemas de renovo mantêm-se ao nível do solo, muitas vezes envolvidas pelas  folhas basais em roseta e "revivem" na primavera seguinte. 
Florescem de Abril a Julho, sendo das primeiras umbelíferas a dar flor. E é pela sua floração de um amarelo intenso e brilhante que recomendamos o seu uso como ornamental, pela introdução de 'luminosidade' no meio das outras plantas. 
Preferem solos ácidos, pobres em nitrogénio e não gostam de sombra pelo que podem ser uma boa solução para "aqueles locais difíceis"...
No verão as respectivas umbelas de sementes ficam assim:
                               Umbela da Thapsia villosa             Umbela da Thapsia transtagana