quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Sementes de Portugal no Biosfera


Não fosse a atenção do Rafael Carvalho a alertar-nos de que tínhamos sido referenciados no Biosfera e passar-nos-ia totalmente ao lado! E teria sido uma pena, não só porque 5 segundos de fama sabem sempre bem, mas também porque se trata de um dos programas dedicados ao ambiente e à nossa casa comum mais consistentes e duradouros que a televisão pública portuguesa tem (ou já teve) na sua grelha. O que é uma honra. Pena é que passe num horário que não lembraria a muitos...mas isso são outras questões. O importante é que o nosso projecto não passou despercebido à Farol de Ideias e à equipa de produção do programa. Só por isso Obrigado!

Mas como, por vezes, uma boa noticia nunca vem só, ainda temos a satisfação de ver o nosso catálogo referenciado no jardim autóctone pelo Rafael Carvalho. A ele também o nosso obrigado pelo apoio.

Para quem quiser ver o programa o link é o abaixo. A referência ao sementes de Portugal aparece no 23º minuto!

http://www.faroldeideias.com/tv.php?programa=Biosfera

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Cardo Bola

Echinops strigosus
Depois de nos termos ocupado nos últimos posts com as cistácias, fazemos uma pausa nas mesmas, para vos apresentar mais dois cardos e concluir a tarefa de vos mostrar os cardos que considerávamos mais interessantes: o cardo bola e o cardo marítimo. Relembrando o que dissemos aqui, apesar de popularmente designados de cardos pertencem a géneros botânicos diferentes do género Carduus

O que abordaremos neste post é talvez o mais desconhecido da maior parte de nós, o cardo bola ou, cientificamente, Echinops strigosus. Muito frequente no Algarve, há ainda registo da sua presença nos distritos de Beja, Setúbal e Lisboa, conforme nos mostra a Flora-on. Todavia, é no Algarve que  melhor ser observa o enorme potencial ornamental desta planta. 

Algumas das suas populações, como é o caso das que existem entre Vila do Bispo e Sagres, quase chegam a parecer elaboradas instalações plásticas a tirarem partido do contraste entre a perfeição das suas inflorescências esféricas  e as diferentes alturas que as mesmas atingem.

Do género Echinops, que engloba cerca de 120 espécies, apenas ocorre em Portugal a que agora vos apresentamos. E não ficámos mal servidos. Pelo contrário, bate aos pontos e de longe as variedades de jardim, desenvolvidas noutros países e que já se vêem em alguns garden centers. As suas bolas são muito maiores e podem facilmente ser aproveitadas em arranjos florais frescos ou secos.

Não lhe são conhecidas utilizações medicinais ou culinárias, mas o interesse ornamental justifica-o plenamente. A germinação das suas sementes não requer cuidados especiais e está bem adaptado a solos pobres, bem drenados e expostos pelo que é de evitar regá-lo com frequência. É uma planta plurianual que pode atingir um metro de altura e que à semelhança de outros cardos aparenta estar seca durante o Verão para, com as primeiras chuvas de Outubro, renascer.

Nota - As fotos são da autoria de Júlio Machado do blogue Pedras, Plantas e Companhia

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Esteva

Esteva ou Chagas de Cristo (Cistus ladanifer)

De todas as cistácias a esteva ou Cistus ladanifer é talvez aquela que mais material forneceria para um livro se o quiséssemos fazer, tal é a quantidade de usos e aplicações que as diferentes civilizações e culturas do mediterrâneo lhe foram dando ao longo do tempo.

Entre nós, a esteva, também conhecida por chagas de cristo, devido às máculas bordeaux em cada uma das suas cinco pétalas, é observável um pouco por todo o país embora as grandes populações se encontrem sobretudo no Sudoeste alentejano, centro do país e Trás os montes uma vez que prefere solos ácidos sejam eles xistosos ou graníticos. Prefere mas não é requisito. Sobre solos calcários ou mais siliciosos também perfeitamente possível disfrutar das suas enormes flores logo ao início da Primavera.

O seu nome "ladanifer" tem origem na resina que as suas folhas produzem - o ládano - a qual proporciona  um aspecto brilhante às suas folhas. Esta resina, que hoje é bastante valorizada pela industria de cosmética pelas suas propriedades fixadoras de outras essências, está também na origem da sua utilização como bom material combustível pelas nossas populações locais.   

É um arbusto que pode atingir até 3 metros e deve-se reconhecer que não tem um porte compacto. Por isso, a colocar num jardim, sugere-se que se siga a norma universal do sentido estético e funcional de arrumar os móveis mais altos no fundo de um dado espaço. De preferência num conjunto de vários pés para que a mancha seja mais harmoniosa. Assim colocadas, com boa exposição solar e em solo bem drenado os resultados são garantidos: Um festim para abelhas e escaravelhos que adoram empanturrar-se do seu néctar.

Referência por fim à possibilidade de as suas pétalas poderem ser, como refere Fernanda Botelho na sua Agenda 2014 - Plantas Medicinais, Ervas silvestres e flores comestíveis - consumidas frescas ou desidratadas. Já as suas folhas e cápsulas são utilizadas como condimentares na confecção de coelho manso por lhe dar um sabor próximo do de coelho bravo.

Quanto aos usos medicinais, e ainda transcrevendo a Fernanda Botelho, o seu óleo essencial tem propriedades anticépticas podendo ser utilizado como desinfectante de feridas. Na medicina popular do sul do país é ainda considerada como indicada  para o tratamento do mau cheiro dos pés!

Nota 1 - Nem sempre as suas flores apresentam as tão características máculas nas pétalas. Se as encontrar totalmente brancas trata-se da mesma espécie.
Nota 2 - Em Portugal ocorre na costa vicentina uma subespécie - Cistus ladanifer subsp. sulcatus , que para alguns é uma espécie autónoma (Cistus palhinhae). O seu porte arbustivo mais compacto confere-lhe um ainda maior interesse ornamental.
Nota 3 - E talvez a mais importante, o blogue Plantas e flores do Areal, tem uma entrada bastante completa e detalhada sobre esta planta. Para quem quiser aprofundar e ver mais (boas) fotos de estevas é só clicar aqui. Nela, a Fernada Nascimento esclarece-nos, entre outras coisas, a diferença entre o ládano, a resina da esteva, e laudano, uma substancia de nome parecido mas completamente diferente

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Roselha-grande


Num jardim cabem diversas espécies de cistácias e, se bem enquadradas, só há vantagens em compor um canto com duas ou três espécies beneficiando quer dos diferentes portes arbustivos quer das diferentes cores das suas folhagens e flores que vão desde tons de rosa ao branco passando pelo amarelo. Apesar de as suas flores terem uma vida efémera, cerca de um dia, são arbustos que garantem um período de floração prolongado.

Dessas a Roselha-grande, Cistus albidus, é uma das escolhas seguras cada vez mais utilizada em "jardins secos" e "mediterranicos". É um arbusto que normalmente adquire um porte harmonioso e compacto, podendo chegar aos 2 metros de altura. As suas folha aveludadas são de cor verde acinzentado, quase brancas e as flores, justificando o nome de roselha grande, podem chegar aos 5-6 centímetros.

Em Portugal ocorre um pouco por todo o país sendo a zona oeste e o Algarve duas das zonas onde se pode observar com abundância em locais com boa exposição solar. Normalmente prefere solos calcários, mas não é requisito para que vingue e floresça, adaptando-se bem a outros tipos de solos desde que não sejam ácidos ou encharcados nem excessivamente nutridos. Pelo contrario prefere solos bem drenados, pobres em matéria orgânica e sendo pouco exigente de água é umas das espécies que melhor suporta os nossos Verões prolongados.

sábado, 11 de janeiro de 2014

Bocas-de-lobo

Quem (assim por volta da nossa geração) não se lembra de em criança brincar com estas flores apertando-as de modo a fazer abrir aquela ‘bocarra’? Era uma das flores mais comuns na maioria dos jardins, fossem eles pequenos ou grandes, públicos ou privados, responsável por encher os canteiros de cores fortes e variadas.
Sendo da mesma família das dedaleiras, Plantaginaceae, as bocas-de-lobo (Antirrhinum sp) são um exemplo das plantas silvestres pioneiras na conquista dos nossos jardins e a espécie que melhor conhecemos dos jardins é a cultivada Antirrhinum majus.

De entre as cerca de 25 espécies conhecidas e originárias do mediterrâneo ocidental, em Portugal e na natureza  podemos encontrar 7 espécies diferentes, algumas mais ou menos raras.
As bocas-de-lobo mais comuns que podemos encontrar à beira dos caminhos, em fendas de rochas e de um modo geral em terrenos pedregosos é o Antirrhinum linkianum, enquanto que em “sítios arenosos e perto do litoral” (1) já encontramos o A. cirrhigerum. São pequenas as diferenças que as distinguem e em comum têm a forte coloração rosa purpura das suas flores que as faz ressaltar à vista na paisagem.

Em resumo, é uma planta herbácea perene bem adaptada a diferentes condições, que suportando bem o nosso frio entra em floração logo no final do inverno, renovando as suas flores até meados do Outono ou mais.
De fácil germinação, chega em Março a melhor altura de proceder à sementeira e possuímos para já o Antirrhinum cirrhigerum ou bocas-de-lobo-do-litoral-arenoso, disponível conforme o nosso catálogo.


      (1)    in Flora-on 


domingo, 5 de janeiro de 2014

As Cistácias



Para a maioria de nós, o titulo deste post causa algum pavor pois não é um termo de uso corrente e em regra tendemos a desgostar do que não nos é familiar. Porém, se um dos nossos objectivos é o de dessacralizar o jargão técnico-cientifico, mostrando que afinal as plantas já existiam antes dele, outro é o de ir introduzindo alguma da nomenclatura cientifica que organiza o mundo da botânica e relacioná-la, tão rápido quanto possível, com as plantas que nos rodeiam e que conhecemos do dia a dia. 

Dessa forma, e sendo claro que somos apenas dois autodidactas mais atrevidos, esperamos contribuir para a divulgação cientifica, mas sem nos fecharmos na sua linguagem, dessacralizando-a sempre que possível. Aliás, como já se devem ter percebido os seguidores que agora se iniciam no tema da flora autóctone, é inquestionável que a partir de um "certo numero de plantas", os nomes comuns deixam de ser suficientes para encaixarmos toda a diversidade que nos rodeia.

As cistácias são uma família que agrega diversos géneros e espécies de plantas, características da flora mediterrânica, que partilham uma característica curiosa e que está na base do seu nome. As suas sementes encontram-se em cápsulas globulares divididas em diversas "compartimentos" que para  o percursor da botânica moderna, Lineu (Carl Linnaeus 1707-1778) se assemelhavam a cestos, isto é, em latim, cistus.  Surgiu assim a designação de Cistaceae para esta família, ou como "aligeirado" para Português, as cistácias.

Dos 5 géneros da família que existem em Portugal destacam-se dois: o género Cistus, que é o mais representativo e o género Halimium. De uma forma muito grosseira são as espécies popularmente denominadas como estevas ou sargaços. De qualquer das formas, mesmo que nem estas expressões conheçamos, será fácil ao leitor reconhecer a sua existência na sua envolvente: fazem parte da paisagem de quase todo o nosso território e na Primavera é impossível não reparar na sua floração abundante, nas suas cores ou no seu aroma/cheiro adocicado - sobretudo nos grandes estevais da costa vicentina ou de Trás-dos-montes para dar dois exemplos.

Como escreveu recentemente Margarida Costa da APH - Associação Portuguesa de Horticultura no artigo "Estevas e sargaços no seu jardim" (1) são plantas que estão "adaptadas a solos pobres e a períodos de seca prolongados" o que faz delas uma opção segura para qualquer jardim. Tão segura que é uma planta que tem sido bastante trabalhada por inúmeros jardineiros e viveiristas. Nomeadamente em Inglaterra, onde a admiração pelas plantas mediterrânicas já é longa, os Cistus têm sido desenvolvidos em novas variedades e híbridos. E o que é curioso, muitos deles já disponíveis nos nossos garden centers que os importam sobretudo da Holanda. 

E embora não tenhamos nada contra os híbrido ou as "espécies comerciais" não deixa de ser "irónico" necessitarmos que outros povos valorizem o que é naturalmente nosso para nos dispormos a pagar pelo que sempre nos acompanhou.

Mas como este post já vai longo deixaremos para artigos futuros os diferentes aspectos e particularidades que em nosso entender justificam plenamente a opção por qualquer das espécies de Cistus e Halimium que a nossa Natureza nos oferece. A multiplicidade de usos, o interesse ecológico e a beleza intrínseca das suas flores simples e abundantes, fazem das cistácias uma das opções incontornáveis na tão necessária renovação da jardinagem portuguesa de que o Arq. Ribeiro Teles nos fala há já tanto tempo.