domingo, 28 de janeiro de 2018

Sabugueiro


No início do projecto sementes de Portugal , há cerca de quatro anos, uma das ideias a que dedicámos mais energia foi a de partilharmos informação útil sobre as muitas espécies emblemáticas da nossa flora silvestre. Mas a realidade é sempre mais forte e com o tempo escasso e a voragem frenética das redes sociais onde há cada vez menos espaço para textos que ultrapassem os dois parágrafos, esse hábito foi perdendo frequência.

Porém, a ideia inicial permanece viva e aproveitaremos este período invernal de menor actividade para partilhar alguma informação básica sobre aquelas que são as espécies mais emblemáticas da nossa flora nativa e cujas sementes comercializamos. Entre as 50 mais relevantes que temos em catálogo. há algumas  algumas às quais ainda não fizemos sequer justiça. mas as inúmeras qualidades do Sabugueiro justificam que voltemos a ele uma vez mais. Trata-se de um arbusto que pode atingir porte arbóreo, uma farmácia viva para alguns! - e que faz parte do nosso imaginário colectivo e da toponomia de muitas localidades. Mas que muito têm dificuldade em identificar à primeira.

Como escrevíamos atrás, apesar de ter um porte significativo, que pode alcançar facilmente os 5 metros de altura,  o sabugueiro é na realidade uma espécie arbustiva, nascendo ramos novos, de forma natural, a partir da sua base. Todavia, pelo corte destes e pelas podas dos ramos superiores não é difícil formar um tronco principal e com isso alcançar um porte arbóreo.

Frequente em todo o território nacional, mas de forma mais generalizada no centro-norte de Portugal, o sabugueiro é igualmente uma espécie disseminada por toda a Europa sendo-lhe atribuídos inúmeras qualidades, nomeadamente ao nível medicinal, ao ponto de ser considerada por diversos povos como o “armário dos remédios”. Nele desde a casca às folhas, passando pelas flores e pelos frutos tudo pode ter aplicação. Tem propriedades anti-oxidantes e pode ser utilizado com sucesso na cura de gripes e constipações, apenas para referenciar alguns exemplos dos muitos que possui. Nesta vertente em particular sugerimos aliás a leitura dos artigos escritos pela Fernanda Botelho, que há já vários anos se dedica a divulgar entre nós as suas propriedades medicinais.

É uma espécie de origem ripícola, isto é, habituada a margens de linhas de água, pelo que tem uma clara preferência por solos húmidos, com alguma profundidade e sem demasiada exposição solar. Adapta-se e sobrevive em condições diferentes mas se o queremos ver desenvolver-se de forma robusta e saudável não deveremos fugir muito a isso.

Além das óbvias qualidades ornamentais da sua folhagem, destacamos a abundância da sua floração, constituída por enormes “umbelas” de flores perfumadas nos inícios de cada Primavera e que, além do mais, são comestíveis e entram na composição de deliciosos xaropes. A este propósito não  um resistimos a partilhar um interessante projecto dedicado a esta espécie que, pelas mãos de Jaime Otero, nasceu há poucos anos na região de Alcobaça e que comercializa precisamente xarope 
da Flor de Sabugueiro! Para quem estiver interessado em aprofundar as muitas utilizações sugerimos vivamente que visitem a sua página no FaceBook. AQUI.

Simultaneamente, as suas bagas, que nosso país amadurecem a partir de meados de Julho, destacam-se também por serem comestíveis - podem ser utilizadas na culinária, por exemplo em tartes, junto com outros frutos vermelhos. De igual forma, o seu sumo, que entre nós é pouco conhecido, muito apreciado em países como a Alemanha ou a Dinamarca, esta na base aliás de uma importante actividade exportadora em algumas regiões do Douro-Sul, como Resende, que nos últimos anos apostou de forma bem sucedida no cultivo do Sabugueiro.

De notar todavia os cuidados a ter na ingestão do sumo extraído das bagas, o qual não pode ser ingerido directamente, devendo ser previamente fervido, para eliminação das toxinas, e diluído em água.

Por fim e não menos importante, referimos a sua mais-valia ecológica no jardim. O néctar das suas flores fazem as delícias dos insectos polinizadores, das abelhas em particular, e as suas bagas são uma importante fonte de alimento para os pássaros mais diversos, entre os quais os melros.

Disto isto, e tendo referido de forma muito sucinta algumas das principais qualidades, esperamos ter contribuído para um uso mais generalizado desta espécie. Uma espécie que faz parte do nosso património etno-botânico e que pode enriquecer a vários níveis os jardins de todos aqueles que pretendem ter espaços verdes em que cada planta tem sempre muitas aplicações inúmeras histórias para contar!

Nota final – A germinação das suas sementes não apresenta dificuldades de maior e o seu crescimento, existindo disponibilidade de água, é rápido e vigoroso!  Referimos no entanto que, pela nossa experiencia, a taxa de germinação é substancialmente maior se as sementes forem previamente demolhadas em água tépida durante cerca de 16 horas antes de serem semeadas!

Nota final II - O artigo agora partilhado foi previamente publicado na edição de Novembro de 20017 da Revista Jardins.


segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

2018 - Previsões e tendências

Estamos na altura do ano em que nas mais variadas áreas se comunicam em catadupa as previsões e tendências que marcarão os próximos 12 meses. Das tradicionais cartomantes e especialistas em horóscopos aos analistas  desportivos e políticos passando pelos gurus da moda e da tecnologia, sem descurar os vizinhos mais sabedores, este é um mercado fértil em que tudo é possível prever e vaticinar.

É razoável suspeitarmos que lá para meados do ano a maior parte dos esforços oraculares ou não se concretizou ou já se esqueceu, porém da atenção que lhe demos é que já não se aliviam. E esse é um motivo mais do que suficiente para de forma bem disposta prevermos o que em matéria de flora autóctone marcará 2018 e os próximos anos na nossa legitima, embora interessada, perspectiva. A maior parte das 6 preconizações que fazemos são simples desejos que afirmados de forma tecnocrática ganham outra e muita credibilidade. O que é altamente criticável, dirão alguns! Pois que sejam. Afinal quanta da realidade não se materializou apenas porque alguém a sonhou!?

PREVISÕES E TENDÊNCIAS


#1 - Em 2018, 80% dos que irão semear pela primeira vez irão fazê-lo com sementes de espécies silvestres nativas de Portugal. Probabilidade de ocorrência: entre 90 e 100%.


#2 - 98% dos que em 2018 germinarem sementes de flora nativa concluirão que semear não é uma ciência esotérica. Com a temperatura, humidade e luz adequadas é altamente provável a obtenção de resultados satisfatórios. Probabilidade de ocorrência: entre 95 e 99%.


#3 - 40% daqueles que planeiam construir um jardim em 2018 irão seleccionar espécies autóctones adaptadas ao nosso clima, a longos períodos sem água e base de jardins bio-diversos. Esta percentagem subirá de forma consistente alcançando os 100% em 2025. Probabilidade de ocorrência: 90%.


#4 - Em 2018 apenas 10% dos portugueses considerará as espécies autóctones insuficientes para manter um jardim sempre florido. Em 5 anos esta percentagem decrescerá de forma ainda mais significativa para valores residuais próximos de zero. Em 2023 será consensual que as dezenas de espécies silvestres que ocorrem naturalmente no nosso país são mais do que suficientes para satisfazer as legitimas necessidades básicas de beleza de qualquer cidadão. Probabilidade de ocorrência: 99,99%.


#5 - Em 2018 uma percentagem crescente de portugueses residentes em meios urbanos considerará como muito pouco eficiente ter de se deslocar grandes distâncias para usufruir de um prado florido. O campo na cidade será uma tendência na jardinagem dos espaços públicos das nossas cidades. Probabilidade de ocorrência: 80% em 10 anos


#6 - Em 2018 10% dos portugueses que habitam nos principais núcleos urbanos e que são proprietários de parcelas florestais ou rurais abdicarão de rendimentos de curto-prazo e irão promover a implantação de espécies autóctones em povoamentos heterogéneos, base da biodiversidade e da fundamental preservação dos solos. Em 2030 a gestão do espaço florestal que não contemple estas duas vertentes será considerada uma bizarria. Probabilidade de ocorrência: 95% em 15 anos.

Votos de um bom 2018! Decente. Se o for já será muito bom!